Farewell

There is always a time to say goodbye. O que foi não volta a ser.


Crédito imagem: Alessandro Ercolani


"O Frio Especial

O frio especial das manhãs de viagem,
A angústia da partida, carnal no arrepanhar
Que vai do coração à pele,
Que chora virtualmente embora alegre.
"
Álvaro de Campos


Auf Wiedersehen!



Se acredito em almas gémeas?


Crédito imagem: João Antunes - http://www.wolan.net


Sim. A árvore está ligada á terra através da raíz, mas não quer dizer que a terra esteja ligada á árvore. A terra dá vida, substrato, suporte. E é tudo. Eu estou ligado a ela, mas ela não me liga. Não importa. Basta-me o sorriso.




A noite passada

Nada aconteceu, porque...

(...)ri-me de ti "então porque não voas?"
e então tu olhaste
depois sorriste
abriste a janela e voaste...


Sérgio Godinho, A noite passada

Nada acontece. Nada muda. Como nos esteiros.


Crédito imagem: João Lopes Cardoso - http://jalc.wolan.net


Devia esperar outra coisa?



A injustiça existe (e é o único comentário sobre os Olímpicos)

Nemov teve de silenciar o público, para Paul Hamm fazer uma exibição sofrível e ficar com a prata que o primeiro merecia.

Porque Igor Cassina foi ainda melhor...


Crédito imagem: Eurosport - http://www.eurosport.com




Que belo treinador de bancada eu sou.

Meanwhile, aqui troveja, chove, é Outono... O quanto eu gosto de voltar a casa, acalmar, pegar na mochila e voltar para a escola. É o primeiro ano que não vai acontecer. Voltar a casa e á escola.


adenda: injustiça é também não idolatrar Francis Obikwelu. A começar pela blogosfera, pondo-se toda aos gritinhos histéricos em que esteve durante o Euro. Em vez de se preocuparem com os meninos mimados de uma actividade não Olímpica, faziam melhor se destacassem aquela bandeira que se meteu no meio do orgulho americano. É verdade, o resumo dos 100 metros é: ficaram em 4o lugar.


Sugestões e Dúvidas

Um amigo sugeriu-me:

"quando o nível de parlapier, souplesse, pinta, categoria, filosofia dela igualar o teu, então liga-lhe."

Não estou assim tão confiante. Descobri hoje mesmo que devemos ser um pouqinho mais humildes, especialmente nos assuntos da alma.

Descobriram-me também parte do passado. É engraçado olhar para as caras e perguntar o que foi feito. Inexoravelmente, uns estão desaparecidos, outros perdidos, outros cruzam-se no autocarro sem uma palavra. Inexorável é também a morte. O catarro, a gangrena, a estupidez de nem me lembrar do rosto dela.



Mas além da dúvida dos caminhos trilhados por cada um, surge uma mais significativa e trágica: Para onde estava eu a olhar num momento como este?



A pirâmide

O vendaval foi forte, mas o blog resistiu á intempérie.

O contador (como pode ter a alma um contador? Vide "21 gramas". Quero saber o peso exacto da importância da minha alma), aliás, o gráfico semanal do contador, ficou com uma bonita pirâmide. Agora, posso voltar á tranquilidade da minha casinha do Shire, na Terra Média.

Mas, um dia, hei-de ir ao Egipto. Intrigam-me as formas triangulares: Os triângulos amorosos, os triângulos equiláteros, as triangulações. Encontrar o centro dos triângulos, o teorema de pitágoras, criar formas geométricas todas a partir de triângulos.

A perfeição das pirâmides reside no facto de, em geral, assentarem num quadrado.

É isso que eu sou: quadrado. E espanto-me ao olhar para o que está por cima de mim.

Adenda:
Pourtant quelqu'un m'a dit...
Que tu m'aimais encore,
C'est quelqu'un qui m'a dit que tu m'aimais encore.
Serais ce possible alors ?
Carla Bruni, Quelqu'un m'a dit...


Animal rastejante

Pior do que um vândalo: Chegar ás árvores sem ver o sol.


Crédito imagem: João Lopes Cardoso - http://jalc.wolan.net


Preparação mental

Canja.

Uma canja de galinha. Duas panelas. Os convivas ficaram satisfeitos pela iguaria, eu terminei o dia de rastos: Primeiro, Toranja. Depois, encontro no meio dos discos Carla Bruni. Que oiço agora, incessantemente, do princípio ao fim. Pela primeira vez, o resto.

Ela canta "Le Ciel dans un chambre" em francês e italiano. É preciso dizer mais? A língua mais romântica e suave, misturada com a fogaz, estupidamente apaixonada, língua dos amantes. Dizia-se, algures no "O Conde de Monte Cristo", que as italianas são fiéis ao seu amante. Seu. Singular.

A mensagem que mudou a minha vida, (não sei como foi possível chegar a este ponto, ter o coração suspenso por caracteres ASCII), vinha em francês. Nem para amante singular sirvo, pelos vistos. Fico a aguardar, em silêncio, e quando o meu coração falar, levantar-me-ei e irei onde ele me levar...



Crédito imagem: Je ne sais pas. Honestly.

E, entretanto, vou chorando um bocadinho.


PS: Pensando agora no título: Toda a preparação deste humilde espaço não é suficiente para o vendaval que se aproxima. Também os míudos foram apanhados pela tempestade do Tejo, que se transformou num mar. Não é que tenha mudado a vida de nenhum deles. Deixaram de ser meninos mas também já não o eram...
PS2: Je suis excessive? Je ne sais pas. "C'est pas pour l'extase, c'est que l'existence, Sans un peu d'extrême, est inacceptable (...) Je n'ai pas d'excuse."


Aproxima-se o Outono



Crédito imagem: Carl Milner



Finalmente... paz, sossego, tranquilidade, as vindimas. Saudades do meu avô, das desfolhadas. E das bolachas Maria na gaveta do armário da sala.

Primeiro a serra
Semeada terra a terra
Nas vertentes da promessa
Depois o verde
Que se ganha ou que se perde
Quando a chuva cai depressa
E nasce o fruto
Quantas vezes diminuto
Como as uvas da alegria
E na vindima
Vão as cestas até cima
Com o pão de cada dia

Suor do rosto
P'ra pisar e ver o mosto
Nos lagares do bom caminho
Assim cuidado
Faz-se o sonho fermentado
Generoso como o vinho
E pelo rio vai dourado o nosso brio
Nos rabelos de uma vida
E para o mundo
Vão garrafas cá do fundo
Duma gente enraivecida

Por isso há festa, não há gente como esta
Quando a vida nos empresta uns foguetes de ilusão
Vem a fanfarra e os míudos, a algazarra,
Mais o povo que se agarra p'ra passar a procissão
E são atletas, corredores de bicicletas e as palavras indiscretas
Na boca de algum rapaz
E as barracas mais os cortes nas casacas
os conjuntos, as ressacas e outro brinde que se faz:

Vinho do Porto vou servi-lo neste cálice alicerce da amizade
Em Portugal!
É o conforto de uma dor tomada aos tragos que trazemos por vontade
Em Portugal!
Se nós quisermos entornar a pequenez,
Se nós soubermos ser amigos desta vez
Não há champanhe que nos ganhe nem ninguém que nos apanhe
Porque o vinho é portugûes!

Vinho do Porto
Vinho de Portugal
E vai á nossa
á nossa Beira-mar.
Á beira-porto
Há vinho por tomar
Há-de haver Porto
Para o nosso mar.


Há-de haver Porto para o desconforto para o que anda torto
Neste navegar.


Carlos Paião


Paulo

Vai deixar-nos para regressar a Portugal. É uma pessoa com um coração gigantesco, um homem inteligente, um dos indivíduos que vai deixar Portugal um pouco melhor do que o encontrou.

Neste momento, pediu-me 10 minutos para ir dar uma última volta ás salas de controlo.

E pronto. Até amanhã. Saímos daqui e voltaremos a encontrar-nos...


Que importa o que eu sinto hoje?


Amostra sem valor

Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível:
com ele se entretém
e se julga intangível.

Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.

Eu sei que as dimensões impiedosos da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.


António Gedeão


Que importa tê-la longe? Mesmo perto não estaria comigo, não sei bem porquê. O problema são os porquês que ficaram suspensos no ar, sem resposta, sem lembrança, sem um 'ai' sequer...

Resta-me sempre a mão e o sorriso dos amigos... na sombra ou a descoberto, sempre comigo.


Crédito imagem: João Lopes Cardoso - http://jalc.wolan.net



Resta-me também procurá-la. Tenho 2 meses. E comecei hoje.

Faz hoje um ano.

Conheci-a. Apenas nós e mais um amigo, daqueles que talvez não volte a encontrar, e uma desconhecida. Eu enebriado, convicto em esperar a noite inteira para rever a minha alma gémea. Ela a cantar, com aquela suavidade que vim a descobrir muito mais tarde.

Desde 11 de Agosto de 2003, ficou a imagem cá dentro, enterrada no horizonte ilimitado (sem fuga) dos meus sonhos, de algo que julgava não poder re-encontrar.

Aconteceu. Encontrei-a. Descobri-a. E, era ela. Era ela. Gostava de poesia. Mostrou-me coisas novas. Fez-me voltar a escrever. Trabalhar noites inteiras sem me cansar. Chorar de desespero pela ausência, rir aliviado e alarvemente com notícias boas ou tristes. Tudo deixava de importar desde que soubesse que pensava em mim.

Os meus amigos, desta vez, não disseram: "mais uma paixão desenfreada!" "Ai menino!". Não. Desta vez, aceitaram que não era só eu. Que algo existia do outro lado. E eu, aceitei e acreditei. Vi Lisboa pelos olhos dela, e descobri que o Porto é apenas de abrigo, de retorno, feito do mesmo abraço transmontano que um dia recebi: forte, corajoso, com solidariedade feita de um peito e braços habituados a lutar contra a adversidade, com a geada, com o sol ardente. Descobri o meu berço, de onde se contemplava o Rio, a Ponte, o Sol, a Sé. E pude partir.

O Meu Amor Existe

O meu amor tem lábios de silêncio
E mãos de bailarina
E voa como o vento
E abraça-me onde a solidão termina

O meu amor tem trinta mil cavalos
A galopar no peito
E um sorriso só dela
Que nasce quando a seu lado eu me deito

O meu amor ensinou-me a chegar
Sedento de ternura
Sarou as minhas feridas
E pôs-me a salvo para além da loucura.

O meu amor ensinou-me a partir
Nalguma noite triste
Mas antes, ensinou-me
A não esquecer que o meu amor existe.

Jorge Palma



Só tenho o conforto de memórias, de noites de esperança. O conforto dos amigos.


Crédito imagem: João Lopes Cardoso - http://jalc.wolan.net



Parti. Mas ainda não cheguei, para poder partir de novo. E estou perdido no alto mar. No mar. O mar. Incerto, escuro, doce.

Um ano - apenas o primeiro.


Estrelas

Ontem compreendi que a única coisa que podemos ter por certa, em qualquer parte do mundo, que nos fará sentir em casa são certas constelações e estrelas.

"Tenho" uma constelação, Cisne.


Crédito imagem: http://chandra.harvard.edu



Possíveis explicações mitológicas estão transcritas em baixo. Estas interessam-me, contudo, o importante é que cada uma das estrelas da Cisne tem associada uma pessoa que passou na minha vida e cá ficou, dentro, não sei bem onde. Os heróis. Aquilo que eu gostaria de ser quando fosse grande. Os modelos. Os exemplos. Os que podem ter defeitos que eu nunca vejo, os que são ideais. Aqueles que eu posso não voltar a ver, que estão ou não comigo neste mundo, mas que me acompanham sempre, quando mais não seja pelas recordações.

O Beto e a Ruth eram as minhas asas, fizeram-me voar. A minha prima Ana, não sei bem porquê, era a cauda. Não sei porquê, simplesmente sei que tem de lá estar. Ontem encontrei o pescoço. Quem fez a articulação para a vida adulta. O Nuno marcou-me, sei que é provável que não o volte a encontrar. Mas ganhou o lugar. O que não é pouco. É um modelo, um ideal, algo que eu gostaria de ser e não sou.


Crédito imagem: Johannes Hevelius' Cygnus
from Uranographia (1690)




Cygnus (swan)
also (modern) Northern Cross
Location: Northern Hemisphere
Coordinates:
Right Ascension: 21h
Declination: +40º
Source: Greek mythology, also Arab

Cygnus CONSTELLATION The story behind the name: Cygnus is one of the older constellations recognized by early civilizations. It was first seen as a bird or a hen, but became associated with several Greek myths involving swans. The shape of the constellation with a short tail and long neck stretching out suggests a flying swan more than the other birds.
As with other more ancient constellations, a number of myths have been proposed as the inspiration for the image. A well-known myth is the story of Zeus who disguised himself as a swan to seduce Leda, mother of Helen of Troy. Various children are attributed to that liaison - Helen, Clytaemnestra, Castor, and Pollox - but only Helen is consistently named as a child of Zeus.
Variants on this myth have Zeus seducing Nemesis, goddess of the Pelopennesian swan cult. In some variants, Nemesis is also able to transform herself into a bird. She lays an egg from which Helen will be born, but gives it to or leaves it for Leda to find. Zeus was supposed to have placed the image of a swan in the heavens to commemorate the success of his trickery.
Another myth which may be represented by the constellation is the story of Cygnus, son of Aries, who was transformed into a swan when he died.


Source: Chandra X-Ray Observatory, Harvard



O horizonte

Não é o mar.


Crédito imagem: Paulo Marques



Mastigar

O trabalho.

As desilusões.

O passado.

As incertezas.

O ódio.

A carne.

O pão.

A boca seca.


E, no final, beber água. De preferência, sem gás.


Hoje, a re-descoberta:


there's some happiness
and my stone face cracks again
maybe sometime sooner or later

but i don't think i'm ready yet

Eels.


Eles mesmo. Eels. De quando eu era nem menos nem mais feliz, mas mais certo. Mais confiante. Mais seguro. Mais tudo daquilo que perdi.


Música para hoje

Num loop infinito:

"Hey!" Pixies...


If you go
I will surely die...

We're chained



PS: Talvez entrelaçado com Cannonball... E Lust for life. Acho que sim. É uma boa selecção. Pixies, Breeders, Iggy Pop. Porque não?



Crédito imagem: Fotografia estragada que não merece crédito

Eu não sei tanto sobre tantas coisas.

You can have anything you want
You can drift, you can dream, even walk on water
Anything you want

You can own everything you see
Sell your soul for complete control
Is that really what you need

You can lose yourself this night
See inside there is nothing to hide
Turn and face the light

What do you want from me


Gilmour/Samson


Luz ténue



Crédito imagem: Carl Dean Milner - "Casemates" da Cidade do Luxemburgo



ao longo do túnel.

O problema é, apenas, não ver o fim e ter um só caminho...